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"Prefácio

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) —

sem nome.

Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.

Insetos errados de cor caíam no mar.

A voz se estendeu na direção da boca.

Caranguejos apertavam mangues.

Vendo que havia na terra

Despendimentos demais

E tarefas muitas —

Os homens começaram a roer unhas.

Ficou certo pois não

Que as moscas iriam iluminar

O silêncio das coisas anônimas.

Porém, vendo o Homem

Que as moscas não davam conta de iluminar o

Silêncio das coisas anônimas —

Passaram essa tarefa para os poetas."

Manoel de Barros

 

     A poesia de Manoel de Barros é, sem dúvida, diferente da maioria. Enquanto essa fala da grandeza e a imensidão do mundo, ele nos conta sobre o que é pequeno e insignificante. Manoel atinge a complexidade ao falar do simples. Mas como será que seus leitores se sentem ao ler sua poesia?

    “Eu sinto a beleza da sutilidade das coisas”, diz Julia Chiovetto, graduada em letras pela Universidade de São Paulo, ao ser entrevistada por alunos da Escola Projeto Vida.

     Manoel consegue deixar o leitor entretido em sua poesia, não pelo tema ou por sua linguagem, mas sim pelo modo que organiza suas ideias, tornando-as atrativas ao leitor.

     Suas poesias são diferentes, pois possuem um jeito único, como se tivessem personalidade própria. Talvez isso intrigue o leitor, consequentemente, fazendo com que ele queira conhecer cada poema e sua personalidade.

     Suas poesias, apesar de falarem do simples, são difíceis de compreender. Muitas pessoas dizem que para compreender Manoel de Barros é preciso se entregar completamente, sem medo, sem suspeitas e sem dúvidas. É preciso “ser” Manoel de Barros para ler e entender Manoel de Barros.

Talvez, por isso, pessoas que não conhecem sua poesia, falem que essa é infantil e que não passa de um mero jogo de palavras, mas quem é seu leitor mais aprofundado sabe da complexidade existente em sua simples poesia. Contudo, somos incentivados a mudar os hábitos de leitura por sua poesia, ela estimula a reflexão constante sobre o simples, a infância e a natureza.

     O leitor se sente intrigado pelo modo como Manoel expõe as coisas simples, como se fossem belas e raras, ele sente vontade de descobrir como o pequeno pode ser tão grandioso ao ponto de vista de um homem.

     A simplicidade é algo enfatizado pelo próprio poeta, ele gosta de dar destaque às coisas que são deixadas de lado, as que ninguém presta atenção. Isso faz com que o leitor reflita, pense sobre o que não damos atenção, porque pensamos que são insignificantes, mas o insignificante tem a capacidade de fazer coisas incríveis. Manoel sabia disso e queria transmitir aos seus leitores:  sem o simples não poderia haver o complexo.

     A forma como expressa essa simplicidade em suas poesias é diferente e inesperada. Faz o leitor pensar e se divertir, mostrando um novo ponto de vista sobre o mundo que pode mudar nossa visão sobre ele.

     Manoel usa poesia para nos contar que a infância é importante, porque nela tudo é possível, a imaginação faz tudo o que queremos e torna o mundo mágico de forma que nunca será novamente após essa fase da vida. A forma como ele coloca isso em sua poesia faz o leitor  se sentir nostálgico e com vontade de reviver a infância, simplesmente para poder brincar sem se preocupar com “coisas de adulto”.

     Os seus leitores buscam compreender o mundo de uma forma nova e inusitada, dando ênfase ao que é simples e insignificante, e acharam a poesia de Manoel para  realizar tal tarefa.

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